Luz Subterrânea
O ranger da madeira de uma cadeira de balanço; o som distante de uma rede balançando de um lado para o outro, lembrando um sussurro delirante de uma casa que se afoga no tempo. Uma cidade que parece visitada pelos sonhos. Rua do Fogo. Lembro que éramos proibidos de subir a escada que dava acesso ao último quarto do casarão. Para uma criança, isso era mais um motivo para querer subir até lá e descobrir o que não era guardado como segredo, mas parecia inalcançável.
Em Oeiras, no sertão do Piauí, muitas casas ainda guardam gritos silenciosos que dilaceram o âmago do ser humano. Eles estão no quarto que ficam no fundo ou separados por um muro. Alguns tinham grade, outros nem janela tinham... diziam que era o quarto do doido.
Depois de muitos anos, voltei para Oeiras para escutar os gritos febris e procurar muitos lugares encontres, apenas ranas, mas am outros me deparei com o silencio gutural que limpa o mundo. O som da rede balancando de um lado para um outro conduz a narrativa das fotografias. O olhar fixo nas paredes funciona como uma janela da memória. As imagens documentam o imaginário que já não me pertence.
Piauí, Brasil, 2010